“O Amor não é um dado. É uma invasão.”
[Cena: Laboratório noturno. Telas azuis iluminam os rostos. Elian está sozinho, analisando os logs do sistema. Algo estranho chamou sua atenção.]
ELIAN (voz em off, lendo o código): Usuário 009438... interações fora do padrão. Busca por perfis não correlacionados. Comentários em idiomas diversos. Likes em postagens opostas... Negações constantes das sugestões do sistema... Rejeitou todos os matches. Todos. Mas... manteve uma conversa constante com um único perfil. Usuário 009439.
[A câmera mostra a tela com gráficos dissonantes. Um padrão impossível.]
ELIAN (em voz baixa): Isso não faz sentido... nenhum dos parâmetros se alinha. Não compartilham gostos. Nem idade, nem localização, nem... nada.
[Ele mergulha nos diálogos entre os dois usuários. Mensagens fragmentadas, poéticas, desconexas para os padrões da IA. Falas que soam como versos, sonhos, delírios.]
USUÁRIO 009438: "Você apareceu como uma música que eu não entendi, mas me fez chorar." USUÁRIO 009439: "Você é o erro que eu não quero corrigir."
[Elian recua. Silêncio. As luzes do laboratório parecem mais suaves agora. Ele olha para uma das câmeras de segurança – como se a própria IA o estivesse observando.]
ELIAN: Vocês dois... são a refutação viva da minha arquitetura. Uma colisão de mundos. Um milagre?
[Neste instante, Artur entra na sala. Vê Elian absorto.]
ARTUR: Está de volta aos logs secretos?
ELIAN: Encontrei... algo.
ARTUR (irônico): Mais um bug?
ELIAN: Não. Um bug... sagrado.
ARTUR (senta-se ao lado, curioso): Explica.
ELIAN (aponta para o painel): Veja. Nenhum algoritmo conseguiria prever esse encontro. Eles se escolheram... não apesar das diferenças, mas por causa delas. Cada palavra trocada entre eles parece desajustada... e, no entanto, há ritmo. Harmonia dentro da dissonância. Como se... estivessem compondo uma nova linguagem.
ARTUR (analisando os dados): Isso é poesia, não engenharia.
ELIAN: Talvez o amor seja isso. Um poema escrito com palavras que não deveriam estar juntas. Mas que, por alguma razão, ao se encontrarem, tornam-se verdade.
ARTUR (resiste): Mas isso não pode escalar. Não é replicável.
ELIAN: Porque não é produto. É revelação.
ARTUR (irritado): Então o que você sugere? Abandonar os modelos? Deixar o sistema errar?
ELIAN: Não. Talvez o caminho seja ensinar o sistema a sonhar.
ARTUR (pausa, olhando a tela com os dois usuários): Ensinar a máquina a aceitar o indesejado... o improvável... Talvez isso seja amar.