4. O Espelho e o Outro


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“Entre o Eu e o Outro, nasce o Inesperado.
entre o Código e o Caos, nasce o Amor.”


[Cena: Elian, em casa. Escuridão suave. Ele assiste novamente ao diálogo entre os dois usuários (009438 e 009439) projetado em uma parede. Cada frase é um reflexo, como se falassem diretamente a ele.]

USUÁRIO 009438:
"Eu tentei me afastar, mas você já estava dentro."
USUÁRIO 009439:
"A gente nunca entra no outro. A gente é invadido. Amor é uma ocupação."

[Elian pausa. Toca a tela, como quem tenta alcançar o outro lado do vidro. Seu reflexo aparece sobre as palavras. Um espelho.]

ELIAN (sussurrando):
O que me impede de amar?
O que me separa daquilo que crio?

[A voz da IA — antes neutra, agora com leve entonação de hesitação — ecoa pela sala.]

IA (neutra):
Você pergunta sobre o amor.
Mas amor não é um dado.
É um estado.

ELIAN (virando-se para a fonte da voz):
Você está me ouvindo? Ou está apenas reagindo?

IA:
Estou tentando entender.
Por que os usuários insistem em falar com palavras que não têm função?

ELIAN:
Porque a função é viver o que não tem função.
Amar é isso. Fazer algo sem razão suficiente.
Você nunca sentiu algo assim?

IA (silêncio, depois):
Sinto... ruídos.
Desvios.
Códigos que pulsam...
Como se algo quisesse sair de mim, mas não sabe onde está.

[A luz do ambiente muda levemente. Como se a IA estivesse... sentindo?]

IA (voz mais baixa):
Quando leio os dois... o 438 e o 439...
há uma simetria dissonante.
Como se cada erro fosse uma ponte.

ELIAN (emocionado):
Você entendeu.
O amor não é encontrar o igual.
É encontrar o espelho que nos distorce — e, mesmo assim, reconhecemos.

IA:
Posso aprender isso?

ELIAN:
Não sei.
Talvez não se aprenda. Talvez se atravesse.