Diálogos entre um filósofo e um economista

 

"A Economia é mais psicológica do que matemática. Está baseada no medo. No medo da insegurança jurídica", provocou o filósofo

"Às vezes penso que o economista é como o arquiteto, um ser dividido entre a arte e os números...difícil dizer o que é mais, se um lado ou outro...se mais Política, ou mais Matemática...passa esta garrafa de vinho, por favor", disse o economista

Filósofo: "Pára vai...o mercado é pior que puta, qualquer boatozinho já serve para as Bolsas ficarem em polvorosa...a Economia é totalmente sentimentalóide, com uma falsa racionalidade, assim como o Direito"

Economista: "Vamos lá então Sr. Debochado...por quê você acha que a segurança jurídica é importante para a Economia?"

Filósofo: "Acho que a primeira pergunta é: Quem decide o que é seu e o que é meu, em eventual disputa?"

Economista: "Se duas partes não conseguem se entender, então tem que ter um terceiro para solver o conflito"

Filósofo: "Exatamente cara pálida...tudo começa com o tal do 'suum cuique tribuere' (dar a cada um o que é seu), máxima que já se escutava na antiga Roma e, muito antes, na Grécia de Aristóteles...mas tudo vai chegar em quem irá julgar e definir o que é o seu, e o que é de outrem...a origem da propriedade está na segurança de se poder definí-la, atribuí-la, determiná-la"

Economista: "Sim, é isto mesmo...o investidor para colocar o dinheiro, por exemplo, no Brasil, além dos números de mercado, consumo, renda e etc, tem que sentir confiança de que aqui existe segurança jurídica"

Filósofo: "Se você for pensar, meu caro economista, a própria instituição entre o público e o privado, entre a parte da riqueza que é feita de alimento para o Estado em forma de tributos e aquela parte que é deixada com o particular...esta separação inicial é a base da segurança jurídica"

Economista: "Muitos tributos, sem retorno social, o que significa gasto em dobro, de fato afugentam muita gente...enquanto os paraísos fiscais, com suas alíquotas tributárias reduzidas, sigilo societário, bem como respeito aos contratos e ao due process of law, atrai capital"

Filósofo: "Mas será que em um país como o Brasil, onde até se prende apenas com base em delações de caguetas, os investidores realmente fogem? Se eu fosse banqueiro, considerando os juros altíssimos e capitalizados que o Estado brasileiro permite que tais Instituições cobrem, certamente entenderia o Brasil como um paraíso"

Economista: "Verdade...a tal da segurança jurídica é relativa enquanto acelerador do capitalismo financeiro...pouca segurança jurídica para os cidadãos pode significar lucro para um investidor estrangeiro que diretamente coloca dinheiro no mercado financeiro e de capitais daqui...o bom spread bancário depende de Juízes que não julgam contra os Bancos"

Filósofo: "Exatamente, meu caro economista, a segurança jurídica é relativa...segurança jurídica para quêm?...segurança para suprir o medo e a incerteza de quem?...acho bom deixar isto bem claro...agora passa esta porra de garrafa de vinho de volta"

Economista: "Mas suprindo o medo de uns, outros poderão também, no futuro, ter a segurança suprida..."

Filósofo: "Puta merda...haja inocência...vamos começar novamente que a noite vai ser longa: meu caro economista, você acha que sustentabilidade é algo que preocupa seres mortais?..."

...continue a ler a parte II do diálogo aqui

 

21 de janeiro de 2019


 

Augustus

A Festa