Otavinho e Biro-bira na sala de aula

 

Otavinho: “Cala boca Biro-bira! A professora me mandou defender esta posição! O abutre é que está certo!”

Biro-bira: “Cala boca você Otavinho almofadinha! A professora me garantiu o direito de defender a festa dos ratos!”

Otavinho: “Não! Não! E Nããão, Biro-bira! O abutre tem o direito de comer os ratos! Nada de festa!

Biro-bira: “Professora!? Olha o Otavinho me empurrando...Não tem! Não têm nããão, Otavinho!”

Otavinho: “Não me empurra Biro-bira! Só eu posso te empurrar!”

Biro-bira: “Feeesta! Feeesta! Feeesta!”

Otavinho: “AAbutre! AAbutre! Aabutre!”

A sala, dividida, incendiáva-se como hordas de bárbaros gritando hinos de guerra uns contra os outros.

Biro-bira: “O abutre é assassino! Gosta de comer ratinho!”

Otavinho: “Os ratos são ladrões! Furaram todo o queijo!”

Biro-bira: “O abutre é fascista!”

Otavinho: “Os ratos são comunistas!”

Então a professora bateu com a régua naquele velho quadro verde, cheio de pó de giz em plena era dos smartphones. “Páááá!”

Os alunos, todos assustados, juntaram-se, aproximando-se os corpos, uns aos outros, como que ímãs de polaridades opostas...tudo pelo som do “Páááá!”, feito pela segunda vez.

“Páááá!”, a professora bateu com a régua pela terceira vez na lousa. Fez-se um silêncio sepulcral.

E olhando todos, educou:

“Atenção crianças: não existem nem abutres nem ratos quando mantemos a casa limpa! Otavinho e sua turma arrumem as carteiras da turma do Biro-bira, e com cuidado guardem os ratinhos de plástico no armário da sala! Biro-bira e sua turma arrumem as carteiras da turma do Otavinho, e com cuidado guardem o abutre de pelúcia no armário da sala! Já! E todo mundo vai ficar de recuperação se tiver uma carteira fora do lugar, ou o menor sinal de dano e vandalismo, seja em relação ao abutre de pelúcia, seja em relação aos ratinhos de plástico!”

Mas quando a professora foi passar em revista os ratinhos de plástico, viu que tinham arrancado uma perna, de um ratinho, assim como também notou que cortaram uma parte da asa direita do abutre de pelúcia.

E, então, todo mundo ficou de recuperação.

33 dias se passaram desde o início da recuperação.

Enfim, chegava o dia da prova final de recuperação, cujo teste era uma redação com tema surpresa, a ser revelado assim que todos estivessem sentados, diante da folha em branco, e com lápis na mão.

Otavinho: “Você é o culpado Biro-bira!”

Biro-bira: “Você é o culpado Otavinho!”

“Páááá!”; “Páááá!”; “Páááá!”

“Silêncio todos”, disse a professora de modo firme, e continuou:

“Dividam a sala. Àqueles a favor de Otavinho sentem-se ao lado esquerdo da sala, de frente para a lousa. Os a favor de Biro-bira sentem-se ao lado direito da sala, de frente para a lousa”

Depois da barulhenta arrumação, continuou a professora:

“Todos prontos para anotar o tema da redação?”

Em uníssono responderam:

“Sim, professora...”

“A turma do Otavinho deve fazer uma redação apresentando 7 argumentos a favor das ideias de Biro-bira. E a turma do Biro-bira deve fazer uma redação apresentando 7 argumentos a favor das ideias de Otavinho. Vocês têm 60 minutos a partir de agora. Sem conversa, sem cola, é cada um por si agora.”

Tinham se passado 30 minutos de prova quando a concentração coletiva foi interrompida pelo barulho do Diretor batendo no vidro da porta da sala de aula:

“Toc! Toc! Toc!”

A professora fez um sinal para ele entrar, o que foi feito por aquele velhíssimo senhor careca, que andava apoiado em uma bengala velha de madeira. Parecia até que a qualquer hora iria morrer. Os alunos o chamavam de Matusalém.

Matusalém se aproximou da professora e começaram a conversar em voz baixa, enquanto vigiavam os alunos.

Matusalém: “Tudo bem com você?”

Professora: “Sim”

Matusalém: “Sabe que muitos pais reclamaram de você ter deixado toda a classe em recuperação? Teve gente que queria tirar o filho da escola.”

Professora: “Eu sei”

Matusalém: “Não se preocupe. Faça seu trabalho. Estamos te defendendo.”

Professora: “Obrigado Matusa...quero dizer: Sr. Diretor”

Matusalém: “E prepare-se também”

Professora: “Por quê?”

Matusalém: “Porque estão chegando aqui na escola duas professoras novas. Uma que gosta de endireitar e outra que é sinistra”

Professora: “Pode deixar. As crianças as educarão.”

 

03 de novembro de 2018


 

Augustus

A Festa