July, Mr. M. e a velha justiça, data maxima venia

 

O ano já era 2.050.

July estava estudando as décadas passadas quando leu:

A situação se deu da seguinte forma: primeiro um juiz, vamos chamá-lo de Mr. M., prendeu o velho candidato da corrida presidencial. Então, o novo candidato Sr. B., que concorria com o candidato preso, venceu e se tornou o comandante daquela nação. E, depois, o Sr. B. chamou o Mr. M. para ser um super-ministro, de um Ministério que antes era dividido em vários outros ministérios. Ou seja: O Mr. M. viabilizou o Sr. B. que depois agradeceu o Mr. M.

July teve a certeza de que Sr. B. e Mr. M. admiravam muito um ao outro, até tendo achado expressas declarações de um para o outro, jogadas como pétalas de rosas ao vento. Mas devia ter havido uma razão para Mr. M. prender o concorrente do Sr. B., pensava aquela instigada estudante. E lendo um trecho mais abaixo, viu a seguinte explicação:

É importante atentar para o fato de que o velho candidato era tido como muito corrupto. Era senso comum que ele teria cometido vários crimes de corrupção por todo o país. Mas Mr. M. se tornou convicto muito com base em delatores que tinham suas penas reduzidas quando delatavam. Na época, enquanto clássicos sambistas chamavam os delatores de X9, juristas diziam que poderia haver um ponto do Direito em que a convicção do julgador se aproxima da ideia de fé, de crença, de intuição, podendo se afastar da razão, da demonstração. Afinal, convencimento envolve razão e emoção. Também haviam críticas de que Mr. M. recebia inúmeros auxílios além do seu alto salário, o que era tido por muitos como imoral.

July começava a entender. Mas outra questão lhe veio na cabeça. Mas e a lei? Pensou ela. Para que serve? Foi então que percorreu mais um pouco o texto e leu:

Os Juristas da época começaram, então, a retomar toda a tradição que transpassou os séculos e séculos de experiências de muitas e muitas sociedades e civilizações. E diziam: eis que as leis são aplicadas por indivíduos que têm sua própria moral, sua moral particular

July se irritou com todo aquele discurso. Pensou inicialmente que era uma coisa mas era outra. Já estava grandinha para este jogo. Fechou o livro, em cuja capa se lia Verdades Evidentes, tacou-o na parede e gritou: estes historiadores são os canalhas de sempre!

Mas pegou o livro do chão para tentar entender o significado das abreviações, quando leu uma nota do autor:

Prezados leitores do futuro, resolvi chamar Sr. B. porque à época havia quem o chamava de Sr. Bom e outros que o chamavam de Sr. Bosta. Já em relação ao Mr. M., também havia aqueles que o idolatravam e os que o desprezavam, mas todos eram concordes que Mr. M. era um Mago.

"Aff...", disse July...completando: "que museu de grandes novidades..."

Vestiu então sua saia de couro e um top que marcava os bicos dos seus seios, acendeu um cigarro, deu um shot no uisque que havia sobrado da festa do dia anterior e que curtia sobre a mesa redonda. Olhou-se no espelho e mandou um beijo para si mesma. Linda, vaticinou. Colocou o Rottweiler na coleira, sua pistola Glock na bolsa, e foi passear descalça na praia.

 

02 de novembro de 2018


 

Augustus

A Festa